sexta-feira, 13 de maio de 2011

Içami Tiba

Dia das mães, dia da filha
Por Içami Tiba
Este Dia das Mães, ocorrido no último domingo, 8 de maio de 2011, foi um dos dias mais emocionantes da minha vida - isso foi propiciado pela carta que uma filha escreveu para sua mãe. Quero transmitir esta grande lição de vida, homenageando as duas responsáveis por tamanha emoção, publicando a correspondência nesta coluna. Como pai da Natércia Martins Tiba Machado, filha autora, e marido da Maria Natércia Martins Tiba, mãe destinatária, sinto-me tremendamente identificado com as duas...
“Todos nós temos uma mãe. Não necessariamente a mãe biológica, mas da pessoa cuidadora, daquela que deu colo (muito ou pouco). Podemos não lembrar muito bem, podemos lembrar mais dos momentos difíceis do que dos momentos amorosos, mas tivemos alguém que nos deu uma sensação de amor. Sem amor, não sobrevivemos.
Há mães mais amorosas, mais práticas, mais distantes, grudentas, superprotetoras, amigas, autoritárias, culpadas, heroicas, confusas… há infinitas formas de se viver o “ser mãe”. Certamente a mãe que tive não é a mesma que meus dois irmãos tiveram. Assim como cada filho é único, para cada um, a mãe é também única.
Lembro da minha mãe de muitas formas: imagens, cheiros, sensações, olhares… Poderia escrever um texto sem fim, me perder em meio às lembranças, borrar o texto com as minhas lágrimas, confundir a minha mãe com a mãe que sou hoje.
Isso é inevitável, um dia nos percebemos agindo igualzinho à nossa mãe, o que pode levar à risadas ou a  um choro desesperado.
Minhas recordações envolvem todos os órgãos dos sentidos, é aquele tipo de lembrança que, quando vem, me toma por completo.
Assim como há produtos com cheirinho de bebê, deviam inventar “sachês com cheiro de mamãe”. Lembro-me de ir em seu criado-mudo e, ao abrir a gaveta de suas camisolas, sentir aquele cheiro de amor, cheiro da minha mãe.  Poucas vezes ela viajou enquanto eu era pequena, mas lembro, nessas ocasiões de ir no seu quarto abraçar e cheirar suas camisolas, chorando de saudade.

Minha mãe e eu
O toque, o carinho e o calor. Quantas dores de cabeça foram aliviadas pelas suas mãos apoiadas sobre a minha testa. O calor somado à sua energia melhoravam tudo. Sem falar na imensa sensação de conforto quando ia para sua cama no meio da noite e entrava sob as cobertas já quentinhas, aquecidas por ela e pelo meu pai. Quando vejo meus filhos nesta mesma situação, vejo neles um prazer que é físico e emocional… uma sensação de amor.
Minha mãe é muito talentosa, e sei que muito aprendi com ela. Lembro do meu orgulho e da minha admiração quando ela me ajudava a pintar os mapas de geografia da escola. Ela fazia um degradê maravilhoso, ficava tudo tão bonito. Num minuto o mapa virava uma verdadeira obra de arte.
Sei que a principal responsável pelas minhas lindas recordações de infância é ela. Meu mundo sempre foi lindo porque ela se preocupou em mantê-lo assim enquanto ela tinha essa possibilidade (e ainda o faz em tudo o que pode).  Não sou observadora à toa, minha mãe observa tudo, uma enorme fonte de aprendizado e tem uma memória fotográfica incrível.
Como filha, esse mundo ao som do piano, cheiroso e gostoso, colorido e criativo parecia natural. Hoje sou mãe e reconheço o quanto de esforço houve e ainda há em tudo isso.
Com ela aprendi como podemos tornar as coisas mais alegres e bonitas, aprendi que amor envolve doação, dedicação e até mesmo sacrifício. Aprendi a ter uma força de guerreira, de não ter medo da vida e enfrentar toda e qualquer batalha. Aprendi a nunca dizer “não consigo” sem tentar. Aprendi que as conquistas vêm de grandes esforços e que não há nada a temer em mergulhar de cabeça naquilo que acreditamos.
Aprendi que não seguir nossos valores e princípios é uma enorme traição a nós mesmos. Aprendi que sou capaz de bancar o que proponho e cumprir com as minhas palavras. Aprendi a amar e ser amada, cuidar e seu cuidada. Aprendi a ser carinhosa e “molinha”, mas ser firme quando necessário. Aprendi que devemos sempre acreditar nos nossos sonhos e lutar por eles. Aprendi que, mesmo tendo o mesmo nome, somos diferentes mas, ao mesmo tempo, somos muito iguais. Aprendi que estar, prezar e respeitar quem amamos não tem preço e é aí que reside a felicidade de viver.
Obrigada mãe por tudo que me mostrou e me ensinou!
Te amo e te admiro imensamente!
Feliz dia das mães!
Com carinho
Da sua filha Natércia"
Acredito  que todos nós trazemos dentro de nós um pouco de mãe, um pouco de filha, um pouco de pai e a vida é muito complexa, mesmo que deliciosa,  para aprendermos tudo sozinhos...

Içami Tiba
Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Família de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 26 livros.
Içami Tiba responde a perguntas de internautas; confira aqui. http://img.uol.com.br/ico_assistir.gif

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