quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mulher Feia José Mendes




Pai, filho, Espírito Santo, cruz credo Virgem Maria
Quando viam minha mulher era o que todos diziam
A criançada chorava, os grandes ficavam sérios
Com certeza essa fantasma escapou do cemitério
Os vizinhos me diziam que fizeram algum feitiço
Era louco ou estava cego quando casou com este bicho
Eu então me ofendia e já queria peleia
Dizem que o amor é cego e eu nunca lhe achei feia
Ela pesava trinta quilos, um metro e noventa de altura
Calçava quarenta e quatro perninha de saracura
Tinha um olho furado era careca e banguela
O nariz era volteado e a boca era ma gamela
Era troncha das orelhas não podia usar brinco
Porque ficou defeituosa na revolução de trinta e cinco
O que ela tinha de bonito palmo e meio de pescoço
Com cento e oitenta berrugas e um papo de três caroços
Um dia nós se agarremos e deu uma baita de uma paulera
Amarrei a caninana e remeti lá pra fronteira
Dizem que lá arranjou marido e se casaram por contrato
Três dias dorme com ela, três dias dorme no mato

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Crônicas de Iaça - JJAlves


CINCO
CONTE COMIGO


Que espanto o escoteiro teve com tudo aquilo, como era difícil experimentar tamanha mudança. Em nossa Terra essas coisas são chamadas de fantasias, lidas e relatadas por pessoas de diferentes idades e nacionalidades. Era fato para Katú, que tudo aquilo a sua frente era real, assim como eu e você, e quando se está diante do fato é impossível negá-lo.
Pensativo sobre tudo que havia lhe acontecido continuou a conversa - Quando acordei percebi medo nos olhos dos outros. Este Mapinguari do qual você falou é tão cruel assim?
Amiar estava triste com tudo aquilo, afinal o Mapinguari tinha lhe causado grande dor, com a voz abalada respondeu - A criatura não parece apresentar sentimentos, nos pune sem termos feito nada para levantar sua ira. Estamos tentando nos defender, mas sua pele é dura como as grandes árvores de Araxá.
As grandes árvores de Araxá abrigam cidades inteiras de sacis, povo arredio e brincalhão. Elas possuem uma consistência invejada, são antiguíssimas em Iaça, quando se deseja construir lanças fortes e barcos resistentes para atacar seres poderosos, as árvores de Araxá são a matéria-prima ideal.
Já os sacis, são um povo de uma perna só, de pele bem negra, olhos brancos igual a leite líquido. Eles adoram o fumo, carregam para isso um enorme cachimbo. Juntamente com os curupiras eles dominam as forças da natureza e produzem enorme magia contra aqueles que ameaçam o verde de Iaça.
O olhar de Amiar era profundo, em um momento abaixou-se e agarrou um punhado de terra, abriu a mão e conforme o vento lhe soprava, falou: - Ibi. Temos vivido nestas terras desde o início dos tempos, meus pais eram os senhores desta aldeia, o sangue deles foi derramado aqui também e o Mapinguari foi o responsável.
Foi uma grande batalha, mas ao final os pais de Amiar sucumbiram frente ao ódio devastador do Mapinguari, a pequena Amiar na época tentou defendê-los, mas seus ataques eram em vão.
Depois de matar os pais de Amiar, o Mapinguari poupou a jovem criança, deixando-a com as dores da ausência dos pais, uma dor que ela deveria carregar para todo o sempre.
Boa parte do que aconteceu naquele dia foi apagado da mente de Amiar pelo trauma do momento. Os mais velhos através de ingredientes retirados dos animais e da mata, tentaram reavivar a memória da índia, para que pudessem saber o que aconteceu realmente, mas não tiveram sucesso.
Ficou claro para Katú a gravidade do problema, mas como ávido que é, perguntou novamente a Amiar com intuito de ajudá-la. Em sua mente aquilo tudo estava cada vez mais se tornando real, ele começara a se envolver -Como podemos derrotá-lo?
–– Ele é praticamente indestrutível! Outros Caris caçadores tentaram antes de nós, os tiros de suas 'lanças de fogo' apenas o arranhavam.
–– "Lança de fogo15?" - murmurou Katú diante das palavras de Amiar, enquanto estava com a mão esquerda coçando a cabeça e com aquele olhar recheado de idéias - Deve haver um jeito de vencê-lo, sempre há! - reforçou o argumento para a índia, em seguida segurou a mão de Amiar, tentando passar confiança.
–– Eu não entendo - disse Amiar olhando para Katú - Eu não entendo por que você se importa? Afinal esta não é sua casa, seu povo e muito menos seu Mundo.
–– Agora é! - redarguiu Katú - Confesso que sempre sonhei com algo assim. De alguma forma começo a perceber que tudo isto é real e o mais importante, vocês me ajudaram, acho que o mínimo que posso fazer e retribuir a gentileza. Peço apenas que depois de lhe ajudar, você possa me indicar o caminho para minha casa, apesar de não ser um Mundo perfeito, sinto falta dos que deixei em minha cidade.
–– Farei o possível com meu coração e espírito, jovem Cari - exclamou Amiar.
Katú percebeu que a jovem índia não carregava a certeza na sua voz, inquieto como ele só, questionou novamente - Não sinto firmeza em suas palavras, o que há?
–– Quando digo que farei tudo ao meu alcance, falo com o coração, mas não é tão simples assim - comentou Amiar.
–– Não entendo, acho que esconde algo, se vamos nos ajudar, por favor, diga-me a verdade - justificou Katú diante de Amiar.
–– Para ser sincera, mesmo nos tempos antigos nunca soubemos de um Cari que conseguiu voltar para o seu Mundo.
Katú inquieto perguntou novamente - Então como vocês conseguem nos visitar?
–– O Equilíbrio é mantido pelos Grandes Espíritos que governam Iaça, eles temem que outros como você, que puderam ver Iaça, retornem para explorar nossos mais preciosos bens, a magia e conhecimentos dos antigos índios.
Cabisbaixo Katú sentou-se no chão de terra, e repetiu o gesto de Amiar, capturou um punhado de terra na mão e lembrou-se do lar que tinha na Terra. Sorriu levemente, buscou forças, e apertando com a mão cheia de terra juntamente com a mão de Amiar, disse: - Se você não desistir de mim eu também não desistirei do meu lar, que este gesto possa fortalecer o laço entre nós.
Os dois balançaram a cabeça em gesto de confiança. Amiar clareava a cena com seus lindos olhos e largo sorriso, Katú preenchia a cena com o seu otimismo.
Assim, a chuva desceu do céu, caindo como poesia, molhando os dois e a aldeia. A chuva escorreu pelo rosto de Katú, onde uma lágrima estava sendo derramada, expressando uma mistura de tristeza, alegria e esperança.
Depois da promessa que fizeram em silêncio, Amiar sentiu que o momento havia chegado e que precisava dar uma resposta aos seus pais, sua aldeia dependia da sua atitude.
Em muitas ocasiões o peso da responsabilidade pairava sobre sua lança, era difícil sempre ter as respostas para os males do povo, e naquele momento a chegada de Katú lhe dera um sinal que poderia mudar algo na vida do povo de Óka.
A jovem fez uma pausa nos pensamentos, com o corpo molhando pelo toró16, olhou para uma criança a sua frente, a criança lhe retribuiu com um sorriso lindo. A pele da criança estava repleta de pintura feita de urucum, Amiar sorriu de volta desejando intimamente que tudo aquilo continuasse preservado, então olhou para Katú e falou: — Vamos perguntar ao conselho dos anciões, vamos para o Nheengaba17 falar com a velha sobre o Mapinguari, mas antes, é preciso descansar, você ficará na maloca no centro de Óka recuperando suas energias.
–– Tudo bem - disse Katú - Quem é essa criança? - perguntou em seguida.
–– É Aracê - respondeu Amiar.
–– E aquele que brinca com ela? Parece ser um pequeno guerreiro - perguntou Katú vendo que a pequena índia estava feliz com a presença do indiozinho.
–– Aquele é Kumin, muito esperto e cheio de energia. Kumin sempre cuida de Aracê - respondeu.
Amiar levou Katú para a maloca central onde poderia descansar. Deitado teve a oportunidade de comer de uma farinha parecida com pipoca, a qual os índios chamavam de tapioca. O açaí era prato principal naquela aldeia, sem nenhum tipo de açúcar, tirado diretamente do fruto e servido em uma cuia feita de coco. Os índios depois de descascar toda a superfície do coco e beberem sua água cheia de nutrientes, raspavam a cuia e pintavam-na com imagens de Óka.
Katú aproveitou para conversar com outros índios sobre os seus costumes, explicar um pouco sobre os instrumentos que carregava e a roupa que vestia. Os índios ficaram curiosos com o uniforme, o desenho em forma de búfalo da bandeira presa ao bastão e principalmente o sapato repleto de fios que entravam e saiam de orifícios.
Katú lhes disse que o nome daqueles fios era cadarço. Um indiozinho mais novo gostara tanto do nome que não parava de pronunciá-lo, a ponto de irritar um guerreiro com pouca paciência.
–– Cadarço! Cadarço! - gritava o indiozinho enquanto rodopiava em volta de si mesmo.
Assim, ficaram durante algum tempo, conversando sobre os costumes de Óka e bebendo uma grande quantidade de açaí.
"O solo de Iaça não nos pertence, assim como o céu e tudo mais. No entanto, somos seus moradores e precisamos cuidar bem dessas riquezas". Amiar líder dos índios de Óka

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Livro: Cronicas de Iaça, o mundo além do olho d'agua


QUATRO
A FANTASIA TORNA-SE REAL

Katú ficou desacordado por um longo tempo. Sonhou com a mãe e o pai, e o convívio que trazia grande alegria. Ao acordar percebeu que estava deitado em uma rede de dormir, cercado por índios, e mais a frente sentada no chão batido de terra a jovem que pensava ser um sonho ou delírio momentos atrás. De alguma forma ele se sentia atraído por ela, como se a conhecesse.
Olhou para o teto, e viu que este, estava coberto de palhas, folhas e materiais da terra. Grandes varas reforçavam a estrutura. No seu interior, papagaios, macacos, tatus, patos e vários passarinhos espalhados estavam livres sem correntes ou gaiolas.
Percebeu então que estava numa maloca. Lembrou dos estudos que fazia na escola sobre as tribos indígenas e do contato que teve com vários em feiras de estudo. Virou-se para um dos lados e reconheceu rapidamente o tipiti, instrumento utilizado na feitura do tucupi, bebida de aroma e gosto forte. O tucupi é misturado com outras iguarias que dão ânimo a quem as toma.
Curioso e com a voz restabelecida, inclinou-se dirigindo uma pergunta a jovem índia da maloca onde ele se encontrava - Onde estou? Que lugar é este?
Os olhos da jovem são vibrantes e intensos, sua respiração controlada e a resposta mais ainda - Cari, você se encontra na aldeia desafortunada de Óka e esta é a maloca central - explicou a jovem continuando em seguida - Aqui nesta porção de terra cercada de verde o mal chegou, invadindo de temor os corações de muitos.
Os habitantes desta localidade aparentavam ter um sentimento de temor estampado em suas faces, viviam sempre com as lanças em punho, até terem confiança nos estrangeiros.
Ainda muito confuso com a situação, o jovem não consegue compreender as palavras da índia e insiste em mais questões - Aldeia? Óka? Que brincadeira é essa?
–– Eu não entendo, você não sabe onde está? - rebateu a índia.
–– Não, por favor... Explique - expôs Katú para a jovem.
–– Meu nome é Amiar, você se encontra no Mundo de Iaça, que outrora foi ponte segura para o seu Mundo através das águas. Hoje paira sobre ele a mão fria do curupira Abaçaí, senhor dos exércitos da noite - a índia fez uma pausa reforçando a respiração e continuou - Nossa aldeia Óka, é uma das várias que sofrem com o mal do temível Mapinguari, monstro comedor de gente enviado pelo curupira.
O Mapinguari é um gigante de mais de três metros de altura, pêlos avermelhados, pele grossa, com um olho só e uma boca enorme no meio da barriga. Suas garras destroçam árvores e seus músculos levantam pedras de mais de uma tonelada. Sempre que o Mapinguari está próximo, a terra treme.
Um calafrio percorre o escoteiro, um frio interno agonizante demais para ser descrito. É inacreditável, pensa ele. Devo estar sonhando. Com certeza é uma daquelas histórias que imagino e neste momento devo estar dormindo, logo vou acordar e voltar a ajudar minha mãe.
Mesmo com tamanha confusão mental e ainda um pouco zonzo, Katú resolveu continuar indagando a jovem índia.
Com olhos arregalados ele perguntou - Como cheguei aqui? Eu estava diante de uma luz, começou pequena, mas depois não conseguir ver mais nada, e agora estou diante de você - declarou, lembrando da cena que vivera, e em seguida repetiu a pergunta - Como cheguei aqui?
–– Você é um dos poucos Caris que conseguem entrar no clarão que une sua existência a nossa, e por motivos que só os Grandes Espíritos conhecem, você foi chamado para Iaça - explicou Amiar.
Katú começou a perceber que tudo aquilo era real, tudo que lhe havia acontecido, desde o olho d'água até a maloca e mesmo a índia a sua frente eram indícios de que não poderia estar sonhando. Como poderia um sonho ser tão perfeito assim? A sensação de tontura que ainda carregava, as palavras da índia, os animais livres a sua volta, tudo isso era forte demais para ser um sonho.
Muito confuso e curioso Katú questiona novamente - Meu nome é Eduardo Katú e não Cari. Estava acampando, sou um escoteiro e porque insiste em me chamar assim?
Mesmo que as coisas começassem a fazer sentido, aquele ainda era um mundo estranho para Katú, ao mesmo tempo as palavras vindas de Amiar eram familiares, só não conseguia saber de onde vinha tal familiaridade. No íntimo do jovem escoteiro, algo o fazia sentir a tranqüilidade de que tudo aquilo já havia feito parte dele.
Amiar levantando-se caminhou alguns passos em direção ao escoteiro, olhou firmemente com os lindos olhos cor do mais acalorado pôr-do-sol e disse: - Todos os que adentram o nosso mundo são chamados assim, hoje vários como você, estão aqui dividindo Iaça conosco. Antes eles eram poucos, hoje formam uma nação, mas há muito que não temos mais visitantes, você é o último que tivemos a oportunidade de ver chegar através da luz.
Os homens não descendentes do Mundo de Iaça são chamados de Caris, os habitantes lhes deram esse nome devido a coloração de suas peles, muitos em vários aspectos diferentes dos índios do local e dos demais habitantes naturais de Iaça.
Os Caris também se destacam em habilidade e engenhosidade na criação de veículos de transporte, além de serem ótimos navegadores.
A cabeça de Katú balançava como se não acreditasse em tudo aquilo. Amiar tomou-lhe a mão, e puxando-o, caminharam para fora da maloca com a intenção de mostrar algo a ele.
Katú olhou para trás e pôde ver que a casa do índio devia ter mais ou menos cinqüenta metros de comprimento, uma altura estimada de seis metros e a entrada de cerca de cinco metros de comprimento. Era uma construção soberba e cheia de elementos naturais a sua volta. Sem janelas nas laterais, a maloca possuía aberturas em suas extremidades, muita rústica a estrutura se encaixava bem no modo de vida do povo de Óka.
Do lado de fora, um enorme tronco com imagens de pessoas alegres celebrando ao que parecia ser e uma gravidez. Amiar percebendo que Katú olhava insistentemente para o desenho, falou - Aquela é minha mãe e a pintura na barriga dela sou eu.
Em Óka, cada nascimento era marcado por uma pintura em uma tora que era fincada na entrada da maloca a qual a criança pertencia. A pintura era feita com sangue do animal caçado pelo pai guerreiro. Amiar era por direito líder daquela aldeia, em sua costa pairava a responsabilidade de muitos, por isso o seu nascimento foi registrado na maloca central de Óka, os seus pais eram os lideres.
Katú envolvido com tudo aquilo, baixou a cabeça por alguns instantes, depois tirou a atenção da maloca, levantando o olhar para o alto, viu que Amiar apontava com o dedo para o céu indicando que Katú deveria olhar.
Tal foi a surpresa do escoteiro quando percebeu que no céu havia uma divisão de escuro e claro ao longe. De um lado o sol brilhava formoso e imponente e do outro a lua clareava o véu escuro. A visão parecia uma fantasia feita por um profissional da área de efeitos especiais para alguns desses filmes que rendem milhões de bilheteria, acreditar seria o passo seguinte para Katú, o que não era tarefa fácil.
Ele olhava, mas não acreditava. Era difícil crer naquela cena. Para o escoteiro aquilo não poderia estar acontecendo, voltou a duvidar novamente - Como isso é possível? - aquela cena reforçava para ele a idéia de que tudo aquilo era um sonho novamente.
–– Em nosso mundo, Coaraci, o Sol e Jaci, a Lua, convivem em harmonia, trocam de lugar sempre em perfeita sincronia, onde cada um assume seu posto diante das necessidades de Iaça - explicou Amiar.
Em Iaça os elementos da terra, convivem em perfeita sincronia, provendo o alimento e a energia no local certo onde o povo precisa. Árvores dão frutos com Coaraci, e Jaci ajuda pescadores de todos os cantos a ter a melhor rede de suas vidas. O vento sopra formoso e na medida certa, a chuva que cai em abundância, várias vezes se faz presente para o fim dos desertos de toda ordem.
Esse equilíbrio era um mistério para os povos de Iaça. No início dos tempos, onde a vida começava a pulsar, Coaraci e Jaci contribuíram para que a natureza ganhasse força e vibração. Dizem que os grandes índios conheciam bem o que acontecia, mas isso é mais lenda do que realidade. Hoje os mais novos tendem a confiar mais em seu julgamento do que em histórias perdidas no tempo.
Katú chegou a terra de Iaça em um momento delicado, a harmonia que tanto era vivenciada, estava em desequilíbrio. Os Ókanos buscaram dos mais velhos a informação sobre o que estava acontecendo, mas infelizmente não obtiveram a resposta que precisavam.
–– No seu Mundo, Sol e Lua estão separados, isto ocorreu há muito tempo. O afastamento é prejudicial, pois cria o clima que mais contribui para destruição. O egoísmo que gera o conflito pelas coisas limitadas é criador de separação que se manifesta até mesmo nas coisas da vida, e aqui esse egoísmo parece que chegou - acrescentou Amiar.
–– Como assim chegou? - perguntou Katú.
–– Jaci e Coaraci parecem não estar se entendendo. A mudança entre eles ocorre de maneira quase imperceptível por nós - explicou Amiar.
Amiar manifestava preocupação com o equilíbrio. Jaci parecia estar em divergências com Coaraci. Iaça há muito tinha a harmonia de seus ventos, chuva, raio de Sol e Lua. Naquele instante Iaça apresentava sofrimento, os índios podiam senti-la chorando, a terra pedia socorro. A interferência dos Caris na paisagem alterou drasticamente a rotina dos seres do mundo.
Alguns anciões de Óka acreditavam que os Caris eram responsáveis pelo que estava acontecendo também, mas não gostavam de ter relações mais próximas com eles, preferiam meditar sobre a natureza ao se deslocarem para dialogar.
Katú franziu a testa com extrema curiosidade e com a voz em tom de desconfiança indagou - Acho estranho você saber tanto sobre o meu Mundo.
Amiar esperta como ela só, tratou de responder com energia a pergunta de Katú - Eu já o visitei várias vezes. Confesso que cada vez que viajava até o seu Mundo, mais tristeza cultivava dentro de mim pelo que vocês fizeram, pela falta de cuidado dos povos da Terra com a natureza.
–– Nisso você tem razão! - exclamou Katú.
–– Ainda tem mais, o recurso mais sagrado para nós e desperdiçado por vocês - disse Amiar.
–– E qual seria esse recurso? - perguntou Katú.
–– A água, essência da vida, de onde todos nós viemos, é dela a ligação que temos com tudo que esta em nossa volta, aqui chamamos a água de I - concluiu Amiar.
! - exclamou Katú - Curioso como chamam a água neste Mundo.
"No início é difícil, mas com o tempo você se acostuma." Eduardo Katú quando viu pela primeira vez a Lua e o Sol dividindo o espaço do céu de Iaça.