domingo, 28 de outubro de 2012

Crônicas de Iaça , o mundo além do olho d'água. (J.J. Alves)


Crônica de Iaça, é uma leitura que compartilho com meus alunos e todos que se interessam, por simples prazer, é um meio que encontrei de estar com eles pelo menos uma vez por dia, pois postarei um capítulo por dia. Um beijo a todos.
Livro:Crônicas de Iaça , o mundo além do olho d'água. (J.J. Alves)

UM

O JOVEM AVENTUREIRO

Em nossa volta, encontramos tudo que necessitamos para viver, os rios estão repletos de alimentos, árvores que nos dão frutos saborosos com folhas que imprimem do verde mais claro ao mais escuro. Passarinhos de todas as espécies cantam de graça sem receber aplausos, Sol e Lua fornecem energia e brilho, sem nos cobrar um centavo por isso.
A natureza está aí, desde antes do nascimento da humanidade, nos fornecendo tudo, do alimento à energia que necessitamos para viver. Ela pede apenas que possamos cuidar
de suas riquezas, no entanto, o que parece, é que não estamos sendo muito competentes nesta tarefa.
Envenenamos nossos rios e derrubamos árvores centenárias. Diversas espécies de animais que viviam a mais tempo neste solo do que nós e que hoje já não existem mais. O século XX foi particularmente o da evolução tecnológica pela busca de recursos retirados das entranhas da Terra para o aumento do conforto, mas a que preço?
Mesmo diante de um cenário que inspira cautela, a esperança ainda não teve a sua chama apagada. Um jovem em especial, com o coração sensível ao Mundo em que vive, vai despertar e tentar ajudá-lo da melhor maneira possível, buscando entender seu papel no cenário atual.
Este rapaz chama-se Eduardo Katú, ele é um desses jovens de quinze anos, ávidos por aventuras. Entrou no Escotismo desde cedo, queria acampar, viver perigos, ficar acordado até tarde e conhecer os mistérios da mata e, sobretudo, cuidar das coisas da natureza, buscando a essência de tudo que é vivo.
Uma simples formiga tem um significado grandioso para Katú, um bicho preguiça, animal dócil encontrado na Amazônia, tem sua atenção especial e respeito. Tudo à volta do jovem possui importância, e se está lá deve haver um motivo.
No Escotismo, há mandamentos, isto é, normas que buscam levar o indivíduo comum a se tornar um verdadeiro cidadão, integrado com o meio-ambiente, respeitando até os menores seres da criação, nesses princípios Katú fora criado.
Com a idade juvenil vibrante, é um excelente corredor, suas pernas longas conferem passadas dignas de um velocista campeão em plena forma, e são muito úteis quando o assunto é correr para embarcar em um ônibus.
O cabelo escuro extremamente fino dava trabalho quando começava a crescer. Katú costumava dizer que o cabelo parecia uma farofa quando estava grande, por isso, sempre que tinha alguns trocados corria para a barbearia do senhor Bigode, onde tratava de tirar o excesso do cabelo fino.
O senhor Bigode cobrava relativamente pouco, mas o freguês como ele mesmo dizia, não tinha direito a lavagem na cabeça, nem talco para evitar as assaduras depois de passar a navalha no pescoço.
A barbearia do senhor Bigode é um lugar freqüentado pelos trabalhadores da feira do Bairro do Telégrafo sem fio, bairro antigo da cidade de Belém. Na barbearia, além das cadeiras antigas de barbeiro, há os intermináveis pôsteres de lindas mulheres grudados nas paredes.
As paredes estavam cheias de manchas das goteiras, o piso precisando de uma nova lajota e a porta de madeira velha, bastante castigada pelo tempo, eram detalhes que Katú sempre observava quando ia à barbearia. O seu Bigode sempre repetia - O que ganho não favorece uma reforma, então é melhor deixar desse jeito! - dizia ele, sempre que um freguês reclamava do estado da barbearia - Veio aqui para cortar o cabelo ou apreciar a barbearia - completava.
O olhar de Eduardo Katú é uma mistura de juventude com um mistério profundo de um homem mais velho. Seus olhos castanhos claro vinham do pai e a pele morena herança da mãe, já a altura e as longas pernas suspeitava-se que eram dos avôs.
Adorava contar sobre fantasias de seres poderosos e defensores da natureza em suas batalhas contra o mal. Certa vez em uma roda de conversa com os amigos da rua dos 18, local onde morava, Katú contou uma das suas incríveis histórias sobre um índio poderoso que enfrentava criaturas místicas e uma linda mulher que encantava a todos com sua beleza.
Os amigos ficavam com os olhos sem piscar um segundo sequer para acompanhar passo a passo os diversos movimentos que acompanhavam as palavras que davam vida aos contos de aventura.
Com tanto vigor, o jovem sonhava em encontrar as criaturas que tanto buscava nos livros de lendas sobre a Amazônia e tantas outras culturas. Pensava em ajudar o curupira, um ser encantado com pele verde, longos cabelos, olhos brilhantes e com os pés virados para trás, em sua batalha constante de preservar a fauna e a flora da Terra. Katú não aceitava quando lhe diziam que tudo isso era apenas fantasia. Em seu coração acreditava que toda a fantasia tinha um fundo de verdade, e essa verdade o fazia continuar acreditando.
Um dia, ele encontrou tal mundo, teve a oportunidade de ver como os sonhos faziam sentido, e como a imaginação podia ser um portal para aventuras sem igual com um universo de possibilidades.
Certa vez em um de seus acampamentos, o jovem descobre que, em certos locais escondidos pelas matas é possível entrar em um mundo onde a razão é desafiada. Um mundo onde a Terra é repleta de seres lendários, cheia de personagens poderosos, objetos encantados e uma sabedoria que provém dos índios em repleta harmonia com a natureza.
O melhor de tudo isso, é que alguns visitantes não envelhecem neste lugar, as leis temporais do nosso Mundo eram quebradas, a vida passa de forma diferente. Jaci (a Lua) e Coaraci (o Sol) convivem em harmonia provendo as necessidades dos seres vivos, criando profundo equilíbrio no ambiente. Este mundo extraordinário é chamado Iaça. A natureza é a força presente no mundo e o espírito dos índios, juntamente com as criaturas lendárias, sustentam a paisagem, mesmo diante de forças que lutam para desequilibrar através do controle de recursos indispensáveis a vida de seus habitantes, como a água. Em Iaça, os curupiras são os guardiões dos segredos do mundo, guardam informações a sete chaves, os índios senhores da natureza, homens brancos visionários de uma nova ordem, em constante conflito com os Espíritos da Iaça por trazerem o progresso a uma terra misteriosa, virgem e cheia de tradições. Mistérios rondam a terra de Iaça, locais onde chove sem parar, índios com forças extraordinárias, locais escondidos a tempos em meio aos rios repletos de seres curiosos com suas margens repletas de vida. É difícil encontrar uma passagem da Terra para Iaça, mas o mesmo não ocorre de lá para cá, vários seres encantados nos visitaram ao longo da História e ainda nos visitam. Na Terra sinais destes visitantes encontram-se desenhados em cavernas ao redor do mundo e, sobretudo na Amazônia. Estes sinais são estudados por cientistas que buscam explicações para os achados, tentando compreender o que significam e qual a importância para a Terra. Um dos cientistas incansáveis na busca desses sinais é o arqueólogo Martins Pereira. Ele viaja o Brasil inteiro, sobretudo, o Estado do Pará, catalogando as ricas informações encontradas nas cavernas e rochas. Katú conseguiu retornar para contar a história que hoje repasso a você, leitor. Esse foi o desejo de compartilhar essa aventura com pessoas que acreditam em um mundo cheio de desafios e maravilhas. Anotou muito e aproveitou para desenhar tudo o que via. Muitos de seus desenhos sobre as paisagens, pessoas e criaturas que encontrou estão presentes neste livro e outros estão guardados a sete chaves. Embarque com Eduardo Katú nas Crônicas de Iaça. Enfrente com o nosso herói o temível Mapinguari, monstro amazônico de um olho só, com a mandíbula no meio da barriga, que esmaga guerreiros e caçadores e faz a terra tremer por onde caminha.
Aprenda sobre os conhecimentos antigos dos índios de Óka, conheça a força da magia dos curupiras, encontre seres encantados submersos nos rios e cante vitória quando a batalha acabar.
Reviva com o escoteiro, a trilha percorrida, explore e sinta o cheiro molhado das matas e cavernas que escondem os mais variados segredos. Este é o meu convite para você, querido leitor. Então, vamos começar...
"Quando um escoteiro acampa, quatro coisas são indispensáveis, o bastão, o lenço, o cantil e o coração". Tony Mendes - Chefe Escoteiro.

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